Saber discutir

O acirramento da crise política e a iminência de um impeachment da presidente Dilma Roussef fez aflorar no nosso país um clima de radicalismo e enfrentamento. O espaço do debate que serviria para aprender com o momento e melhorar o Brasil, a partir dos maus exemplos, tornou-se ringue de um pugilato onde não escapam familiares e amigos. Relações têm sido desfeitas, por conta posturas tomadas diante do quadro político.

O país está sendo passado a limpo, numa verdadeira cruzada contra a corrupção que demonstra o amadurecimento das nossas instituições. Do outro lado, no entanto, militantes bem intencionados, e que defendem honestamente uma proposta de governo que privilegie as camadas sociais menos favorecidas, se recusam a condenar os dirigentes implicados em escândalos, cada vez mais explícitos. Defendem que o processo, ou parte do processo, é corrompido, tanto pela ação da oposição como de outras forças.

O confronto de idéias, que seria vital na convivência humana, perde o sentido e vira bate boca. O país como um todo, dividido de forma radical, perde a grande oportunidade de crescer com o processo. Perfilados como torcedores futebolísticos, os opositores se engalfinham e não avançam nas discussões objetivas sobre um Brasil mais justo, mais honesto e ao mesmo tempo mais humano. Artistas de relevância ímpar na nossa cultura, como Caetano Veloso e Chico Buarque, recebem ataques ferozes por conta dos posicionamentos políticos, que chegam a questionar seus talentos. É burrice.

Qualquer debate se faz do choque de idéias, do encontro entre as posições contrárias. Nas redes sociais, no entanto, hoje aumentam os bloqueios e exclusões, na tentativa da criação de uma zona de conforto. Um conforto irreal, que aliena à medida que exclui o contraponto, e torna burras as discussões que permanecem na timeline – discussões combinadas sobre posições comuns, conduzidas com gente que pensa igual. Na vida e no trabalho, os grupos se fecham em torno das idéias coincidentes, que excluem o pensamento diferente.

Ao final, a crise só tem um lado bom, que é a oportunidade de crescimento. Se Dilma cair, Temer cair, Cunha, Renan e tantos outros, sabemos que isto de nada adiantará se a cultura política da corrupção não for mudada de forma definitiva. Mais do que isto: o inferno da crise política não trará nenhum benefício se, ao seu final, encontrarmos grupos antagônicos aferroados à suas opiniões, amaldiçoando o outro lado como se fossem inimigos mortais. Receber os argumentos do outro, processá-los, debatê-los com respeito e desapego a dogmas, pode ser a receita para um valioso aprendizado. O momento é valioso para isto.

 

 

 

 

Galeria de Imagens


Voltar

Endereço
Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins de Limeira e Região
Rua Siqueira Campos, 96 / Centro / Limeira, SP

Atendimento
(19) 3441-8524/ 3441-1474/ 3441-5228

E-mail
stial@stial.com.br


STIAL © 2024 | Todos os direitos reservados.