As entranhas de Brasília

O presidente do Stial e diretor da USTL, Artur Bueno Júnior, traça um panorama da votação do impeachment ontem. Confira: 

O Brasil deu neste domingo o segundo passo para cassar a presidente Dilma Roussef por crimes de responsabilidade, especificamente as operações de crédito em desacordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal e os decretos irregulares para geração artificial de receita em 2015. Por 367 votos a 137 (7 abstenções e 2 faltas), foi aprovado no plenário da Câmara Federal o processo de impeachment da presidente – mas os brasileiros que assistiram a votação pela TV se depararam com um quadro aterrador da nossa classe política.

Poucas vezes tivemos um contato tão direto com as entranhas de Brasília, em discursos desconexos e absurdos, no momento de votação de cada deputado. Com menções a Deus, aos familiares, e demagogias infinitas com as bases eleitorais, os parlamentares demonstraram que acima de tudo não votavam o relatório do deputado Jovair Arantes (PTB) com objetividade. Não tinham foco objetivo nas denúncias que resultaram na abertura do processo. Tecnicamente sofríveis, chegaram a deixar dúvidas sobre a legitimidade da votação, tal a precariedade das justificativas dos votos.

O retrato nu e cru exemplifica a tremenda crise de representação por que passamos, não bastasse sabermos que o vice-presidente Michel Temer (PMDB) certamente será o próximo alvo de processo semelhante. Além disso, que 16 dos 22 deputados investigados pela PGR (Procuradoria Geral da República) na Operação Lava-Jato votaram favoráveis ao impeachment. Eduardo Cunha (PMDB), terceiro na linha sucessória, é outro item que evoca desânimo, e que dispensa comentários. Renan Calheiros (PMDB), mais um alvo da Lava-Jato, é veterano de denúncias e associações comprometedoras na política nacional (foi da tropa de choque de Collor na presidência). Para ficar no “circo” (plenário de domingo), topamos já na segunda-feira com a notícia da prisão por corrupção do prefeito de Montes Claros (MG), Ruy Muniz (PSD), marido da saltitante deputada favorável ao impeachment, Raquel Muniz (PSD). Que o homenageou durante seu voto.

Crises servem para o aprendizado. Não sem um certo nojo, descobrimos que, no regime da democracia representativa, é fundamental estreitar os laços entre o eleitor e seu eleito, sob pena de uma descoberta terrível como a que ocorreu na noite de domingo. Um ultraje que não pode macular o desejo popular patente pela deposição da presidente Dilma, responsável pela crise política e econômica, autora dos crimes descritos. A vergonha de domingo, no entanto, mostra que este foi apenas um primeiro passo, de muitos que o Brasil ainda precisa dar para melhorar seu quadro político, onde o que mais se precisa é a ética.

 

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