O avanço do patronal

Artigo de Artur Bueno Júnior,  Presidente do Stial (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de Limeira), diretor da USTL (União Sindical dos Trabalhadores de Limeira) e vice presidente da CNTA Afins (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Alimentação). 

Em audiência com o presidente interino Michel Temer (PMDB), o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Robson Braga Andrade, apresentou sugestões para mudanças no âmbito trabalhista brasileiro. Sem querer, acabou revelando a face mais cruel de parte do empresariado nacional que, diante da crise, fomenta uma visão torpe e danosa ao trabalhador. Pior – Temer não protestou, no que até pareceu concordar com tais absurdos.

Andrade defendeu a adoção, no Brasil, da jornada de trabalho semanal de 80 horas. É quase o dobro do que ocorre atualmente (44 horas), e um ultraje para qualquer sociedade que se julga civilizada. Divididas, as horas se acumulam em 16 por dia, praticamente o tempo em que o trabalhador fica acordado. Em resumo, se aprovada a proposta da CNI, este ser humano viveria apenas para trabalhar, por décadas a fio, até finalmente morrer.

Pouco depois, a CNI tentou desmentir tal posicionamento, talvez envergonhada pela repercussão. Não conseguiu, no entanto, esconder o pano de fundo da sua argumentação – se não eram a exigência de 16 horas diárias de trabalho, o objetivo era a desfiguração da proteção trabalhista ao empregado. Deturpar a CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), a ponto de abolir garantias como o descanso entre jornadas. Na realidade, a CNI quer campo livre para definir a jornada junto a seus empregados, sem sindicatos ou legislação no caminho. Uma situação terrível para o trabalhador, como pode se supor.

Tal assédio ao presidente da República – independente de seu caráter interino e sem credibilidade popular nenhuma – revela a importância da mobilização do movimento sindical, a despeito da dança sinuosa de suas centrais. O ataque mortal aos direitos mais sagrados parecem só ter começado, numa guerra que pode ter seu momento máximo na chamada Reforma da Previdência. No caminho, uma Reforma Trabalhista cujo foco patronal seria elevar o negociado sobre o legislado. É a hora para isto, na opinião deles, com desemprego em alta e trabalhador “de joelhos”.

É esta a dinâmica que se trava diante da fragilidade de Temer, alçado a um cargo que nunca mereceu, acuado diante de um empresariado com demandas ofensivas ao trabalhador. Nunca as entidades sindicais foram tão relevantes. Se perder seu momento na história, o trabalhador estará condenado ao sofrimento de um patronato que não vê limites para seus objetivos.

Além de fincar trincheiras contra as 80 horas, é o momento de sair às ruas por uma das principais pautas do movimento sindical atualmente – a redução da jornada semanal de trabalho para 40 horas, o que segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos) poderá gerar mais de 2 milhões de empregos no país.

Ainda durante a conversa com Temer, Andrade defendeu a adoção de meio período de trabalho, para os empregados afastados por doenças. De imediato, Temer respondeu que seria “uma boa idéia”, especialmente para aqueles acometidos de depressão, “já que trabalhar poderia ser bom tratamento”. O sinistro papo não deixa de revelar – realmente, vivemos momentos terríveis.

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