A carga tóxica do poder paralelo

Após quase um ano de apuração, o Ministério Público do Rio de Janeiro e a Polícia Civil daquele Estado prenderam, nesta semana, dois acusados pela morte da vereadora da Capital fluminense Marielle Franco, e do motorista Anderson Gomes. A prisão dos executores, no entanto, parece não ter trazido a conclusão definitiva do caso: “quem mandou matar?”.

Desde o início, as investigações trafegaram pelo universo das milícias cariocas, poder paralelo que estende tentáculos para os porões das polícias. Torna-se quase inatingível, envolvendo representantes da classe política, que acobertam suas ações criminosas. Os interesses deste poder paralelo, a exemplo dos traficantes, têm como inimigas as populações carentes, rejeitando que estas se organizem. Foi neste ponto que o sistema se deparou com o trabalho de Marielle.

O problema das milícias expõe o estado de desgoverno do Rio de Janeiro e até do país, num quadro que não envolve somente a segurança pública. Com uma classe política formada por presidiários, e a corrupção como regra, o poder que se exerce no Estado vive degradado moralmente, de cima para baixo. Um miliciano sabe disso, se arma e investe na estruturação do seu poder paralelo. Pior ainda, tem a certeza da impunidade.

A sociedade quer o nome de quem contratou Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, mas a descoberta de um nome não exime todas as autoridades do Rio de Janeiro, de um mea culpa sobre o lodaçal que criou figuras assim, alimentadas por décadas de desmandos e corrupção. Achar os culpados é obrigação, e apenas o primeiro passo para uma mudança de concepção de Estado e sociedade, baseado no exercício da democracia e da cidadania.

Ainda sobre este caso, devemos repensar o clima de ódio contra aqueles que pensam diferente, e que impera no país há alguns anos. Como o ódio é inimigo da inteligência, vale lembrar as postagens negativas contra Marielle, pelas redes sociais, na época do assassinato. Houve gente, até autoridades, que a acusaram de envolvimento com a criminalidade, o que explicaria sua morte. O atual governador do Rio, quando candidato, esteve em ato onde se rasgou a placa de uma rua, que recebeu o nome de Marielle como homenagem. Além de inimigo da inteligência, o ódio é inimigo da democracia.

SUZANO

Se a segurança pública em decadência, permitiu a criação de um grupo mercenário, a crise extremada da educação e dos valores, pode ter criado jovens dispostos a matar. A disseminação das armas, obsessão do atual governo, completa o quadro caótico.

Ainda não sabemos totalmente as causas da chacina de Suzano, e elas poderão configurar num caso simples de problema mental ou familiar. Não esqueçamos, no entanto, da facilidade do acesso às armas, da educação insuficiente, e da falta de perspectivas para os jovens neste país. Se o Estado não falhasse, aqui novamente, nada disso poderia ter acontecido.

Nossos sentimentos às famílias das vítimas, e nossos votos de que fatos como este não ocorram mais.


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